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Redes sociais federadas: uma aposta

https://passapalavra.info/2019/05/126454/

Estamos apostando agora numa migração parcial de nossa presença na internet para redes sociais federadas, e esperamos que outras iniciativas de comunicação semelhantes ou próximas ao Passa Palavra sigam caminhos parecidos ao nosso e contribuam para aumentar a diversidade na rede.

14/05/2019

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Por Passa Palavra

A esta altura do campeonato, militante que não sabe dos riscos envolvidos num simples acesso à internet está comendo mosca. As denúncias de Snowden, Assange e Manning são suficientes para que qualquer um saiba que a internet é, ao mesmo tempo, um espaço privilegiado para a propaganda e para a organização, e também um campo minado.

Há neste dilema um trade-off macabro entre proteção e exposição. Quem privilegia um lado do problema termina, necessariamente, enfraquecendo o outro, sem qualquer meio-termo.

Pode-se optar pela proteção: redução no número de acessos à internet, acesso à rede somente por meio de canais seguros (TOR, VPN, I2P etc.), diminuição da presença em redes sociais, uso de múltiplos perfis… e vão-se, assim, as oportunidades de influenciar o debate público, de divulgar posições, de confrontar tanto o conservadorismo linha-dura quanto o “capitalismo gente boa”.

Pode-se optar pela exposição: aumento da presença na internet e em redes sociais, acesso por meio de canais seguros e inseguros, construção de uma imagem pública a partir de um perfil ou de um grupo determinado de perfis… e vão-se, assim, todas as noções mais básicas de segurança, pois a militância fica exposta em excesso e dá um prato cheio à repressão.

O dilema fica preso nestes termos se se levar em consideração apenas os serviços fornecidos pelas grandes corporações. E-mails, redes sociais, mensageiros instantâneos, todas as ferramentas que empregamos para nossa comunicação na internet dispõem de alternativas livres, capazes de reduzir — reduzir, não eliminar — a exposição a que somos sujeitos. Como já existem boas iniciativas de mapeamento destas ferramentas — como o projeto PRISM Break — além de bons coletivos ativistas dedicados ao assunto — como este, este, este, este, este, este, este, este, este, este, este, este, este, este, este, este, este, este, este, este, este, este, este, este, este, este, este, este, este, este, este, este, este e este — não vamos nos estender neste assunto. Basta dizer, para quem ainda não tenha dedicado mais tempo e atenção ao assunto, que é bom, sim, usar e-mail do Riseup e trocar o WhatsApp pelo Signal (ou pelo Briar, para os mais preocupados), mas isto por si só não basta — pior, cria a ilusão de segurança absoluta quando são apenas duas entre as muitas camadas de segurança necessárias para um uso da internet que tenda à segurança.

O Passa Palavra, como um site anticapitalista, compartilha estas mesmas preocupações. Não temos a competência necessária para criarmos, nós mesmos, alternativas de comunicação eficazes, mas podemos certamente participar das iniciativas já existentes. Estamos apostando agora numa migração parcial de nossa presença na internet para redes sociais federadas como Diaspora*, Mastodon, Friendica e Pump.io. Ao fazè-lo, esperamos que outras iniciativas de comunicação semelhantes ou próximas ao Passa Palavra sigam caminhos parecidos ao nosso e contribuam para aumentar a diversidade na rede.

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Quais as vantagens de migrar para uma rede social federada? Não seria um trabalho extra? O público nestas redes não é minúsculo? Por que se dar este trabalho?

Mesmo com tantos “contras”, há muitos “prós” a se considerar.

Primeiro, nestas redes há maior controle sobre o conteúdo de suas publicações e sobre os lugares por onde ela circula, porque o modelo descentralizado de funcionamento garante maior liberdade de escolha e ação. A explicação pede um pouco de atenção por causa de alguns detalhes técnicos, mas tentaremos simplificar ao máximo. Preferimos garantir que o público leitor entenda as linhas gerais do modelo de funcionamento que fornecer a mais precisa e perfeita descrição técnica do processo — o Passa Palavra submete a técnica à política, e não o contrário.

Para usar o Twitter, por exemplo, você cria uma conta. Seus dados ficam lá no computador da empresa Twitter, você não sabe o que é feito deles. Ainda no exemplo do Twitter, seu perfil aqui “não conversa” com seu perfil do WhatsApp, com o do Facebook, com o do Instagram, com o do Telegram etc. Lá nas máquinas da empresa Facebook seus dados passam entre Instagram/Facebook/WhatsApp, por exemplo (a Facebook é dona destes três serviços e pode fazer exatamente isto), mas aqui fora elas “não conversam”. Se você “mexer” um pouco, suas fotos do Instagram saem no Twitter, no Facebook e no Tumblr, mas nada que você publica no Twitter vai para lá sem instalar uns plugins e outros cacarecos. Até pouco tempo atrás dava para conectar Facebook e Twitter, hoje ao que parece não dá mais. Mas nem é essa a questão. Como estas redes são estritamente comerciais, umas concorrem com as outras. Deste modo, não é interessante que seu perfil em uma “converse” com seu perfil em outra, exceto se for possível ou monetizar sobre a conexão, ou garimpar mais dados graças à “conversa”. Deste modo, não é você quem escolhe como suas postagens vão se disseminar. Além disto, você também não tem muita margem de escolha sobre os lugares onde suas postagens serão disseminadas. E tem seus dados, claro, que são usados pelas empresas donas das redes.

Vamos ver agora um exemplo de rede social federada, a Diaspora*. Este nome vale tanto para a rede social quanto para o software que a faz funcionar. O software é livre, o que significa que qualquer pessoa que queira (e, tecnicamente, saiba configurar um computador para acesso externo) pode baixá-lo em seu próprio computador e fazer funcionar uma rede social que sirva, digamos, só para meus amigos ou para os membros de um grupo político, por exemplo. Este computador, no jargão técnico das redes sociais federadas, passa a funcionar como um nó da rede, como um pod. Como Diaspora* é uma rede social federada (ou distribuída), isto não quer dizer que as pessoas inscritas neste pod (digamos, ”@antipelegada.net“) só falem com gente inscrita nele. fulano@antipelegada.net conversa com beltrano@diasporabr.com.br como se fossem da mesma rede. Isto quer dizer que há maior possibilidade de controle sobre dados, políticas de uso etc. numa rede social federada como Diaspora*. Como é software livre, qualquer pessoa que domine a programação adequada pode contribuir com plugins e conectar mesmo com redes sociais “fechadas”.

Outro exemplo: Friendica é uma rede que mistura funcionalidades do Facebook e do Twitter, entre outras muitas coisas. Assim como Diaspora*, qualquer pessoa que queira (e saiba) instalar uma Friendica em seu computador para transformá-lo num pod (digamos, ”@antiexploracao.net“) pode fazer uma rede mais restrita e controlada, e isto não impediria em nada conversar com pessoas de outros pods (isto é, de outras “redes pessoais” como esta). Ainda no mesmo exemplo, fulana@antiexploracao.net conversa com beltrana@libranet.de (”@libranet.de“ é um dos principais pods da rede Friendica). E o melhor: Friendica “conversa” com Diaspora*, ou seja, fulana@antiexploracao.net “conversa” com fulano@antipelegada.net sem precisar instalar nada extra. É como se seu Twitter “conversasse” com seu Facebook direto, sem plugins.

Para apimentar mais, tem o Mastodon, que é uma rede social com recursos de microblogging. É um Twitter, só que livre. O Mastodon pode, por exemplo, receber um RSS de um site e republicar automaticamente, sem qualquer necessidade de trabalho “humano”. É excelente para disseminar conteúdo. Melhor ainda: Mastodon “conversa” com Friendica, ou seja, beltrana@libranet.de “conversa” com sicrana@mastodon.social. E como beltrana@libranet.de “conversa” com beltrano@diaspora.com.br, todos terminam “conversando” com todos.

O modelo das redes sociais federadas tem sido replicado em outros meios. Veja-se o caso do Peer Tube, nome tanto do software quanto da rede descentralizada de hospedagem de vídeos — algo como um YouTube federado. No modelo do Peer Tube, cada pod hospeda seus próprios vídeos e faculta acesso aos vídeos hospedados em outros pods.

Toda esta flexibilidade só é possível porque — e é a segunda razão para nossa opção pelas redes sociais federadas — por trás do Mastodon, da Friendica, da Diaspora*, do Pump.io, do Peer Tube e similares há a concepção de que redes sociais são serviços de utilidade pública, que devem estar disponíveis para todos como software livre (o que não impede algum provedor privado de cobrar pelo serviço). Na medida em que são concebidas como serviços de utilidade pública, redes como Mastodon, Friendica, Diaspora* e Pump.io facilitam enormemente a expressão individual e coletiva. Isto vai na contramão do modelo das redes corporativas, que apresentam-se como uma “nova esfera pública” quando, na verdade, são serviços privados de captação de dados pessoais e metadados de conexão para posterior monetização via publicidade e propaganda direcionada.

Para entender a questão, é preciso, primeiro, entender a diferença entre dados e metadados da sua presença e atividades na internet. Dados dizem respeito a quem você é e o que você faz enquanto está na internet; metadados (ou seja, “dados sobre os dados”, “informação sobre a informação”) dizem respeito a como você navega na internet (que horas entra, que horas sai, quanto tempo navega, com quem se relaciona, que sites visitou etc.). O que dá dinheiro às redes sociais corporativas não é, fundamentalmente, o que você faz ao usá-las, mas sim os metadados que você fornece involuntariamente enquanto as usa. É aquela conhecida história das propagandas de passagens aéreas que aparecem recorrentemente em sua tela um dia ou dois depois de alguém usar seu computador para pesquisar o preço de um voo para Roraima: nem o Google nem o Facebook leem sua mente, bastam os metadados e alguns likes para que estas duas empresas te conheçam melhor que sua mãe.

A concepção das redes sociais como serviços de utilidade pública inverte a situação. Embora continue sendo tecnicamente possível seguir este mesmo esquema de mercantilização, a confluência entre o fato de os softwares por trás destas redes serem livres e gratuitos e o modelo de múltiplos pods independentes dificulta enormemente a vida de quem tente ganhar dinheiro com os dados e metadados dos usuários: basta que os usuários encerrem suas contas no pod que tentar fazê-lo e migrem para outro pod, e o esquema de monetização se dissolve por completo.

Estas salvaguardas embutidas no modelo das redes sociais federadas servem para manter dados pessoais o mais longe possível do alcance de empresas como Facebook, Twitter etc. Além disto, sabe-se hoje como empresas como Google (dona, entre outros serviços, do Waze), Facebook (dona também do Instagram e do WhatsApp) e muitas outras colaboram ativamente com a vigilância digital, fornecendo voluntariamente e de bom grado à Agência Nacional de Segurança estadunidense, dados e informações pessoais que, pelos contratos e termos de serviços que nos empurram goela abaixo quando aceitamos usar seus serviços, deveriam ser confidenciais (salvo por ordem judicial). A multiplicação e dispersão de pods dificulta muito a obtenção massiva de dados, servindo como camada extra de segurança na internet — e esta é a terceira razão que nos levou a apostar nas redes sociais federadas.

A quarta e última razão é bem simples: todas as redes federadas integram-se bem com a plataforma WordPress que usamos para manter o site na internet. Há plugins para publicação automática (p. ex., este), plugins para compartilhamento de artigos e interação nestas redes (p. ex., este e este), além de outras funcionalidades que testaremos com o tempo. Se há a possibilidade de dar este passo, e somos um dos poucos sites no Brasil a ter esta preocupação, temos a obrigação de fazê-lo.

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Não queremos fornecer um “manual” de redes sociais federadas. Outros mais competentes que nós certamente já os fizeram (como este e este). Pretendemos apenas expor quatro — fortes! — razões que nos levaram a apostar nestas redes, criando perfis em servidores e pods já existentes para distribuir nosso conteúdo por meio deles. Estes perfis, no momento, serão dedicados à publicação nestas redes dos artigos de nosso site, no ritmo de um artigo mais antigo por semana e de replicação dos artigos novos da semana. Na medida em que outras oportunidades se apresentarem, os perfis do Passa Palavra nas redes sociais federadas poderão ter outros usos.

Eis um passo a passo de como acompanhar o Passa Palavra em redes sociais federadas.

Na Diaspora*, basta criar uma conta num pod de sua preferência e clicar aqui para seguir nosso perfil (quem já tiver perfil nesta rede pode pesquisar por passapalavra@framasphere.org) O Passa Palavra criou um perfil neste pod aqui, mas você pode seguir nosso perfil a partir de qualquer pod.

No Mastodon, mesmo processo: crie uma conta no pod de sua preferência e clique acui para seguir nosso perfil (quem já tiver perfil nesta rede pode pesquisar por @passapalavra@mstdn.io , assim mesmo, com arroba no começo).

Na Friendica, mesma coisa: crie uma conta no pod de sua preferência e clique aqui para seguir nosso perfil (quem já tiver perfil nesta rede pode pesquisar por passapalavra@social.isurf.ca).

Na Pump.io, idem: crie uma conta no pod de sua preferência e clique aqui para seguir nosso perfil (quem já tiver perfil nesta rede pode pesquisar por passapalavra@datamost.com).

Se você já está nestas redes, tanto melhor: basta seguir nossos perfis e acompanhar nossas publicações. Aceitamos, claro, sugestões neste campo. Uso de ferramentas das redes, novas formas de difusão de conteúdo, meios de interação, estamos dispostos a testar várias possibilidades.

Quem já nos segue em redes como Facebook e Twitter não precisa se preocupar. Não vamos apagar nossos perfis e páginas nestas redes. Queremos apenas ter outros canais de divulgação e ampliar nossa presença na internet. Entendemos que este passo é, também, uma forma de chamar a atenção de nossos leitores para formas mais seguras de comunicação e interação.

Nos vemos nas redes!

VIA https://passapalavra.info/2019/05/126454/

FONTE https://passapalavra.info/2019/05/126454/